O pior pastel que existe é o de
queijo minas. Não to falando do meu gosto pessoal; é uma constatação,
mesmo, baseada no que importa e no que não importa quando o assunto é “pastel”.
Aliás, o meu pastel preferido é o de queijo, o que multiplica a força da minha
afirmação. O queijo minas não é apenas um intruso conceitual, que não tem
calorias nem oferece riscos à saúde num alimento obviamente feito para matar. É
também uma afronta estética, por sua constante aversão ao derretimento natural
– e providencial, diga-se de passagem – ao ser frito. Pra completar, tem uma
natureza incompatível com o humor de qualquer um que se disponha a devorar o
mais nobre dos alimentos de feira.
Comecemos pelas pontas. O pastel
é uma arte culinária e recreativa que tem, entre outras, a função de nos
transportar metaforicamente aos maravilhosos anos da infância. Nenhum pastel é
tão gostoso quanto aquele devorado aos sete, oito, nove anos de idade. Não apenas pelo paladar
algumas vezes mais apurado que temos antes de nos rendermos aos excessos – de
sal, pimenta, cigarro, etc. – que destroem as papilas gustativas. O próprio ato
de morder o pastel e afastá-lo da boca, numa vã tentativa de partir o comprido
fio de queijo que se estica cada vez mais é a melhor metáfora para os prazeres
– e liberdades – que apenas uma criança possui.
Não obstante, existe ainda a
heresia “inexagerável” – com todo o respeito aos neologistas de internet, não
sei de quem copiei essa - que é uma fritura de massa pesada recheada com o dito
queijo. O queijo mais branco, sem sal, sem gosto e sem criatividade da gastronomia
mundial. Que me desculpem os nacionalistas, mas ninguém realmente gosta dessa
borracha feita de leite. É o tipo de coisa que se coloca em torrada pra não
comê-la pura durante o mais parco dos regimes. E é facilmente substituível por
ricota, e nem me falem de ricota.
Nenhuma fritura que valha a pena
se preocupa com valor calórico do recheio. Alguém já imaginou o que seria da coxinha se o
catupiry que por vezes a acompanha fosse substituído por essa desgraça insossa?
Pois é. Eu me considero um conhecedor razoável da pastelaria brasileira,
herança dos anos vividos nas melhores feiras paulistanas. Pasteleiros chineses
e japoneses importados da Liberdade, coisa fina. Nenhum me decepcionou, da
mozzarella ao queijo prato. Nenhum deles me fez dar uma mordida que arranca
todo o recheio de dentro da massa de uma só vez.
A minha proposta é acabarmos com
o queijo minas. Assim, boicote. Eu sei que isso pode causar uma crise econômica
no país, mas é um preço justo a se pagar por todos os canalhas que nos venderam
felicidade e entregaram frustração. A culpa é da fonte. Acabando com essa praga
e extinguindo essa variação ridícula, seremos mais felizes. Vamos deixá-los
apodrecer nas prateleiras! Até porque, o único queijo minas realmente gostoso é
o curado. Só fica bom estragando.