Quer me matar, fala de cinema com consciência social. Com
conceito e padrão estético. Fala de ideias de planos com mais emoção do que
ideias pra filmes. Fala pra mim que prefere fazer um filme bonito e chato a uma
comédia perfeita e esteticamente precária. Quer que eu te mate, ensine isso na
faculdade. Tem horas que eu sinto inveja de quem faz engenharia.
Na engenharia existe regra. Conta tem resultado certo,
preciso. No cinema, não. Primeiro por ser arte – aliás, um ótimo motivo pra não
existir faculdade é o tema de estudo ser arte, mas deixa essa pra depois.
Segundo por ser tão humano. O cinema mistura todas as outras seis artes com um
único intuito: entreter. E fodam-se aqueles que falam em expressão e o cacete,
pra mim arte é entretenimento. E não me venham com debates gramaticais que hoje
eu não to com paciência.
Quando você chega no quinto ano de faculdade e percebe que
essa mesma faculdade prefere priorizar um projeto pelo projeto e não pela
ideia, pelo roteiro ou pelo interesse do tema, acabou-se. Deixa de ser cinema,
feito com câmeras, ideias e gente competente, e vira negócio, com papel, caneta
e burocratas. E, sinceramente, sendo assim, perde-se o tesão.
Nada contra documentários ou ficções caretóides com críticas
sociais (ou políticas, enfim). Acho importante, até. O problema é ensinar um
bando de jovem que tem na mão a maior arma do século XXI – a câmera – a fazer
cinema velho, que mesmo na crítica não é criativo. Que devaneia sobre qualquer
bosta incrivelmente desinteressante – ou, pior, clichê! – só pra poder assinar
um curta, como se isso bastasse para sua formação. Por favor, né?
Se é pra fazer faculdade de cinema, que se faça algo novo. A
inovação só não é possível com a tal da engenharia e, ainda assim, até ela anda
pra frente. O meu maior medo é descobrir, tarde demais, que todos os meus
colegas são velhos de vinte e poucos anos, com medo de arriscar porque “sempre
foi assim”. O problema, queridos, é que fugir da novidade implica em copiar o
que já foi feito. E aí, mesmo sendo arte, não muda porra nenhuma na vida de
ninguém. Principalmente quando falamos de cinema no nosso país.
E olha que eu detesto Glauber Rocha.