domingo, 9 de setembro de 2012

PLOFT


professor entrou na sala e olhou para os alunos. Alegres e agitados, todos se calaram no instante em que ele estacou à porta. Satisfeito, caminhou até a mesa, separou alguns papéis, fez um gesto amplo para pegar um giz do seu estojo, segurou o apagador com a outra mão e caminhou até o quadro. Parou por um momento, respirou fundo, piscou lentamente e começou a escrever.

Um grande título, “A Arte Contemporânea e Suas Perspectivas Teóricas”, encheu a parte superior do quatro. Ele escreveu algumas linhas sobre o tema, apoiadas por referências bibliográficas, jogou alguns nomes de autores para os alunos estudarem, desenhou um pequeno gráfico e, enfim, pousou o giz. Virou-se e constatou, com uma pequena explosão de contentamento jorrando no peito, que ninguém estava muito feliz por estar ali. Alguns pareciam realmente confusos.

Com um sorriso no canto da boca, sentou-se à mesa e esperou que todos copiassem, em silêncio. Observava cada um com o que julgou ser uma expressão de vívido interesse. Quando o último – e aparentemente mais imbecil – aluno pousou a caneta e o nível das conversas aumentou sensivelmente, o professore levantou-se. Caminhou despretensiosamente até a primeira fileira de alunos, olhou pela janela como se fosse dizer algo que lhe parecia óbvio como o brilho da lua, abriu a boca e falou:

- Quack!

Silêncio. Pego de surpresa, ele levou a mão à boca. De olhos arregalados, viu que uma aluna de intercâmbio levantava as sobrancelhas enquanto o imbecil do fundo da sala sorria como se o natal tivesse chegado em julho. A hippie irritante e meio arrogante sentada à primeira fileira fechou os olhos como se tivesse compreendido o que ele acabara de dizer. Recompondo-se, o professor tentou falar mais uma vez.

- Quack! Au-au! Oooooinc!!!

O riso só não foi generalizado porque a hippie olhou feio para os colegas. Um burburinho recheou a sala, alguns começaram a copiar o que ele dizia, o imbecil lá no fundo se dobrava de rir. A hippie se levantou.

- Desculpe os meus colegas, professor. Eles não tem sensibilidade artística.

- Miaaaau?! Quack-quack!

Mais risos. Uma discussão entre a hippie, que gritava com o imbecil, o imbecil, que a chamava de hippie, e um aluno de Direito, que argumentava que “ninguém me disse que era uma aula prática!”, surgiu. Indignada, a aluna de intercâmbio saiu da sala com o programa na mão, gritando que não queria estar ali quando chegassem ao módulo 3, “A Dança Contemporânea e o Brasil”. A gritaria foi aumentando até que o professor subiu na própria mesa, começou a bater as asas e gritar:

- Có-có-có! Quack! Uuuuu!!!

A hippie e suas amigas explodiram em aplausos. O imbecil saiu da sala sob vaias e acusações de “mente rasa” e “alienado”. Alguns alunos seguiram-no. O professor viu o brilho nos olhos da hippie, que agora incentivava os outros a subirem nas cadeiras para conversar com o professor. O som de bichos tomou conta da sala.

Atirando-se da janela, as últimas palavras que ele pretendia gritar, “porra, eu só fiquei maluco!”, saíram “Riiiiinch, poft, poft!”.

E ele virou referência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário