O professor entrou na
sala e olhou para os alunos. Alegres e agitados, todos se calaram no instante
em que ele estacou à porta. Satisfeito, caminhou até a mesa, separou alguns
papéis, fez um gesto amplo para pegar um giz do seu estojo, segurou o apagador com
a outra mão e caminhou até o quadro. Parou por um momento, respirou fundo,
piscou lentamente e começou a escrever.
Um grande título, “A Arte Contemporânea e Suas Perspectivas
Teóricas”, encheu a parte superior do quatro. Ele escreveu algumas linhas sobre
o tema, apoiadas por referências bibliográficas, jogou alguns nomes de autores para
os alunos estudarem, desenhou um pequeno gráfico e, enfim, pousou o giz.
Virou-se e constatou, com uma pequena explosão de contentamento jorrando no
peito, que ninguém estava muito feliz por estar ali. Alguns pareciam realmente
confusos.
Com um sorriso no canto da boca, sentou-se à mesa e esperou
que todos copiassem, em silêncio. Observava cada um com o que julgou ser uma
expressão de vívido interesse. Quando o último – e aparentemente mais imbecil –
aluno pousou a caneta e o nível das conversas aumentou sensivelmente, o professore
levantou-se. Caminhou despretensiosamente até a primeira fileira de alunos,
olhou pela janela como se fosse dizer algo que lhe parecia óbvio como o brilho
da lua, abriu a boca e falou:
- Quack!
Silêncio. Pego de surpresa, ele levou a mão à boca. De olhos
arregalados, viu que uma aluna de intercâmbio levantava as sobrancelhas
enquanto o imbecil do fundo da sala sorria como se o natal tivesse chegado em
julho. A hippie irritante e meio arrogante sentada à primeira fileira fechou os
olhos como se tivesse compreendido o que ele acabara de dizer. Recompondo-se, o
professor tentou falar mais uma vez.
- Quack! Au-au! Oooooinc!!!
O riso só não foi generalizado porque a hippie olhou feio
para os colegas. Um burburinho recheou a sala, alguns começaram a copiar o que
ele dizia, o imbecil lá no fundo se dobrava de rir. A hippie se levantou.
- Desculpe os meus colegas, professor. Eles não tem
sensibilidade artística.
- Miaaaau?! Quack-quack!
Mais risos. Uma discussão entre a hippie, que gritava com o
imbecil, o imbecil, que a chamava de hippie, e um aluno de Direito, que
argumentava que “ninguém me disse que era uma aula prática!”, surgiu.
Indignada, a aluna de intercâmbio saiu da sala com o programa na mão, gritando
que não queria estar ali quando chegassem ao módulo 3, “A Dança Contemporânea e
o Brasil”. A gritaria foi aumentando até que o professor subiu na própria mesa,
começou a bater as asas e gritar:
- Có-có-có! Quack! Uuuuu!!!
A hippie e suas amigas explodiram em aplausos. O imbecil
saiu da sala sob vaias e acusações de “mente rasa” e “alienado”. Alguns alunos
seguiram-no. O professor viu o brilho nos olhos da hippie, que agora
incentivava os outros a subirem nas cadeiras para conversar com o professor. O
som de bichos tomou conta da sala.
Atirando-se da janela, as últimas palavras que ele pretendia
gritar, “porra, eu só fiquei maluco!”, saíram “Riiiiinch, poft, poft!”.
E ele virou referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário