quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

BALCÃO


BALCÃO

Eu estava no balcão de um bar. Pensativo. Eu não bebo, só refrigerante e água, mas o clima de um bar me basta pra afogar as mágoas. Certo, eu não tenho muitas mágoas, mas o clima do bar me deixa pensativo e melancólico. Talvez o refrigerante estrague essa cena pra quem vê de fora, mas funciona pra mim. Eu estava, de fato, bebendo, pensativo e melancólico.
Não sei exatamente por quanto tempo estive ali. Provavelmente uns vinte minutos. Bebidas gaseificadas não alteram seu raciocínio, por isso não fazem o tempo passar mais rápido. Então, digamos, por volta de vinte minutos. Vinte minutos e pouco. Talvez quase vinte minutos. Bom, tempo suficiente pra que eu ficasse pernóstico. Ou é redundante? Quando se enrola muito pra chegar a uma conclusão, qual é o nome mesmo? Enfim, com certeza mais de quinze e menos de vinte e cinco minutos.
Foi quando ela entrou no bar. Eu sei, eu sei, é meio clichê um cara no bar, pensativo e melancólico, quando entra uma mulher gostosa. Ou bonita, depende do seu grau de melancolia. Pra mim, era gostosa. Quer dizer, eu estava melancólico, mas sóbrio. Quase um meio termo. Em todo caso, ela entrou, sentou-se ao meu lado e pediu um chopp.
Eu sei no que você está pensando. Um chopp decididamente estraga a cena. Ela podia ter pedido um drinque de cor clara, talvez vermelho como o vestido e o batom. Sim, eu sei também que nenhuma mulher vai sozinha a um bar, de vestido e batom vermelho, pra tomar um chopp. Mas a fantasia é minha, a história é minha e, diabos, o bar é meu, também. Ela se sentou e pediu um chopp. Quando eu finalizar a história, facilita pra fechar a conta.
Ela pediu o chopp, sorriu pra mim e perguntou o meu nome. Ou talvez tenha sido o contrário. Sim. Eu sorri, eu perguntei o nome. Aí, sim. Ela respondeu, me disse o nome e perguntou o meu. Respondi.
E aí? Nunca fui bom nessa parte da abordagem. Nem em contos. Talvez eu tenha sido espirituoso, do tipo “as poltronas lá de casa são mais confortáveis que as dessa espelunca”. Não, eu não sou do tipo que fala “espelunca”.  Talvez eu tenha segurado sua mão... Não, isso seria bom vendo o nascer do Sol no Arpoador, depois de uma noite de aventuras. Noite de aventuras?
Esse refrigerante me subiu demais à cabeça. Deixei uma nota de cinco no balcão, me levantei e fui embora.

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